Ontem, dia 22 de janeiro, desfrutando de um calor semi-infernal de uns 40 e muitos graus aqui na cidade maravilhosa, estava eu, de manhã cedo, sentada na minha cadeira com o meu jornal de sábado nas mãos, uma bela xícara de café coado naquele minuto, óculos e uma vontade de ficar o dia todo lendo, organizando prateleira nostalgicamente e esperando a onda de calor melhorar, para então assistir ao meu filminho do dia - O Mercador de Veneza - que eu amo... foi quando me deparei com o belíssimo texto, escrito por Laura Sandroni, sobre a genial e querida, Maria Clara Machado e o lançamento de sua obra reunida numa edição de luxo! Eu me emocionei muito, claro, pois lembrei que há algumas boas décadas atrás, eu encenei no Teatro da escola, a peça dela "A bruxinha que era boa". Não que eu fosse a bruxinha Ângela (a boazinha)mas sim a Fredegunda(isso mesmo!). Não me lembro de todo o texto, mas de uma frase eu me lembro bem... Ângela, após ser salva da torre por Pedrinho, eu a encontrava e dizia: " Mas o que é que você está fazendo aqui Bruxinha Ângela?"
Quanta emoção!!!
Que honra seria poder reviver esta peça!
Enfim, não resisti..
Divido com vocês, a emoção nesse texto lindo, sobre esta pessoa inesquecível, fundadora do meu querido Teatro Tablado!
O texto foi publicado pelo jornal "O Globo" - caderno Prosa e Verso
(Resenha publicada na edição do Prosa & Verso de 22/01/2011)
"Maria Clara Machado celebraria em 2011 duas datas redondas: seus 90 anos e os 60 de seu filho querido, o grupo de teatro amador O Tablado. Na sua falta, os que a conheceram e as crianças de todas as idades que tiveram o privilégio de se emocionar com uma ou várias das 29 peças que criou, montou e dirigiu, receberam valioso presente: o livro com sua obra completa, lançado no final de 2010, pela Nova Aguilar (1.155 páginas, R$ 249,90).
A leitura desses esplêndidos textos da dramaturgia brasileira reavivou-me a lembrança dos momentos inaugurais em que os assisti com prazer e emoção, na juventude, depois com os meus filhos e agora com a expectativa de voltar a vê-los com os netos. A presente edição se distingue pelo fato de que, pela primeira vez, um autor de obra destinada a crianças, também apreciada por adultos, alcança este privilégio: a publicação das 29 peças e preciosas informações sobre datas das estreias, cenários e figurinos, direção, nomes de atores e músicos e as partituras das canções, tudo em um único livro de esmerada produção gráfica.
Organizado com atenção impecável e afetuosa por Luiz Raul Machado, o livro reúne em ordem cronológica 24 peças originalmente publicadas pela editora Agir entre 1970 e 1986, acrescenta “A Coruja Sofia” (publicada separadamente) e quatro peças inéditas em livro. Na introdução, Luiz Raul nos conta um pouco da vida de Maria Clara, nascida em Belo Horizonte no dia 3 de abril de 1921, filha do escritor Aníbal Machado, que em 1925 se mudou para o Rio e logo passou a morar na casa da rua Visconde de Pirajá 487. Mais tarde Maria Clara definiu-se: “Sou mineira até não poder mais, mas vivo aqui desde os quatro anos, gosto mesmo é do mar de Ipanema”.
Aos domingos, o autor de “João Ternura”, intelectual respeitado e, para a filha, “o homem mais sábio que conheci”, recebia poetas, escritores, jornalistas, artistas para um encontro semanal de bate-papo inteligente, que marcou época na vida literária da cidade. Maria Clara cursou o colégio São Paulo e em 1938 entrou para o movimento Bandeirante, que exerceu grande influência em sua formação. “Numa época especialmente repressiva para as mulheres, ser bandeirante favorecia o exercício da liberdade, do companheirismo e da aventura com responsabilidade”, nas palavras do organizador do livro.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra, ela decidiu ser enfermeira e atuou como bandeirante no ambulatório do Patronato Operário da Gávea, mas logo percebeu não ter vocação para esse trabalho. Decidiu montar um teatro de bonecos para as crianças do Patronato e instalou o ateliê, onde preparava os cenários e as roupas, na garagem de sua casa. As titereiras eram as amigas bandeirantes, entusiasmadas com a nova atividade. No início encenavam o teatro de bonecos em festas infantis, época em que Maria Clara escreveu e apresentou sua primeira peça, o auto de Natal “O boi e o burro a caminho de Belém” com grande sucesso.
Em 1941 Aníbal Machado escreveu carta para a filha que se encontrava em um acampamento de bandeirantes nos Estados Unidos: “Se não me engano, a sua vocação mais acentuada é mesmo para o teatro (...) não é uma perspectiva que me pareça absurda para o seu futuro, apenas exige muito trabalho, tenacidade e entusiasmo”. A disciplina bandeirante e a capacidade de liderança que ali adquiriu, somadas ao entusiasmo que a animava, permitiram que Maria Clara realizasse a grande obra que apenas começava a tomar forma.
Maria Clara Machado
Fortuna crítica mostra importância da autora
Em 1949/1950 estava em Paris para seguir um curso dirigido por Jean Louis Barrault. No ano seguinte voltou a Paris para aprender mímica com Etiénne Decroux, mestre de Marcel Marceau. Ao voltar fundou, com o apoio de seu pai, de Martim Gonçalves, Carmen Sylvia Murgel, Eddy Rezende, Jorge Leão Teixeira, João Sérgio Marinho Nunes e outros amigos ligados ao teatro, o grupo amador O Tablado, no Patronato Operário da Gávea. Trabalhou como diretora e atriz, de início em peças de autores estrangeiros e em 1953 reescreveu e dirigiu “O boi e o burro a caminho de Belém”, agora com atores. No mesmo ano montou “O rapto das cebolinhas” e ganhou o prêmio da prefeitura do Distrito Federal para teatro infantil, o que ocorreu também no ano seguinte com “A bruxinha que era boa”. Maria Clara recebeu muitos prêmios, entre eles O Golfinho de Ouro do Museu da Imagem e do Som e o prêmio Moliére da Air France, ambos para melhor autor teatral em 1978. Em 1991 a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra.
Em 1955 produziu seu maior sucesso, “Pluft, o fantasminha”, traduzido para vários idiomas. Neste mesmo ano foi convidada para substituir Henriette Morineau em “O Diálogo das Carmelitas” e montou “Tio Vânia” no Tablado. A trajetória de Maria Clara encontra-se, em detalhes, na cronologia que se segue aos textos de Luiz Raul Machado e, descrita de forma mais pessoal nas partes de sua autoria, no capítulo “Maria Clara Machado por Maria Clara Machado”.
A fortuna crítica apresentada no livro nos dá a perfeita ideia do prestígio da autora. Luiz Raul selecionou alguns comentários entusiásticos de Carlos Drummond de Andrade no “Correio da Manhã” e depois no “Jornal do Brasil”, e de Maria Julieta, filha do poeta (também tradutora para o espanhol de obras de Maria Clara) em O GLOBO, em 1984. Do crítico paulista Décio de Almeida Prado em “O Estado de S. Paulo”, de Austregésilo de Athayde no “Jornal do Commercio” e dos críticos Van Jaffa, Yan Michalski e Barbara Heliodora. Há ainda textos de Luiz Paulo Horta, Maria Antonieta Cunha, Flora Süssekind e Miguel Falabella. O capítulo se encerra com um belo texto até então inédito, de Ana Maria Machado, escrito logo após a morte da autora.
Segue-se a iconografia com fotos e a bibliografia na qual destaco dois dos mais belos livros da literatura infantil brasileira: “O Cavalinho Azul”, editado pela Cedibra em 1979, com ilustrações de Marie Louise Nery, e “Pluft o fantasminha”, da mesma editora, em 1985, ilustrado por Anna Letycia, ambos reeditados pela Nova Fronteira, com ilustrações de Graça Lima.
Para minha alegria assisti a quase todas as peças de Maria Clara com meus pais e mais tarde com meus filhos, sempre emocionada e encantada com a magia do seu teatro. Ao ler este “Teatro infantil completo” relembrei minha vida no bandeirantismo, o belo caminho que Maria Clara percorreu durante toda a sua vida e a enorme influência que exerceu sobre os rumos do teatro brasileiro."
* LAURA SANDRONI é escritora e membro do Conselho Curador da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
(Resenha publicada na edição do Prosa & Verso de 22/01/2011)
MARIA CLARA MACHADO - TEATRO INFANTIL COMPLETO
Organização de Luiz Raul Machado. Editora Nova Aguiar
1.155 pgs
Fiquem de olho no lançamento!
Um beijo e até a próxima!
2 comentários:
MARAVILHOSA!
Vc é demais!
Beijos!
Li
nossa, mari, que nostalgia bateu agora... tantas peças dela foram vistas por mim na infância que passou um filminho mineiro na minha cabeça enquanto lia... hehehe
querida, cê chegou a ver meu último email? cheguei no rio e trouxe seu "regalito" do festival! =)
será que a gente consegue se encontrar essa semana pra eu te entregar e você me atualizar das novidades, se houver alguma? rs
beijos mil.
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